Mesmo em tempos de avanços tecnológicos, informação acessível e campanhas de conscientização, o homem brasileiro ainda reluta em procurar ajuda médica. Em 2025, essa resistência continua sendo uma barreira grave no cuidado com a saúde masculina. Dados recentes do Ministério da Saúde e de planos privados mostram que os homens ainda procuram atendimento com menos frequência, em estágios mais avançados de doenças e, muitas vezes, apenas quando os sintomas se tornam insuportáveis.
Essa atitude, aparentemente simples, traz consequências profundas. A resistência em fazer exames preventivos e manter consultas regulares impacta diretamente a expectativa de vida dos homens, que ainda é, em média, sete anos menor do que a das mulheres no Brasil. Além disso, contribui para diagnósticos tardios de doenças como câncer de próstata, hipertensão, diabetes, depressão e distúrbios cardiovasculares.
Entender por que os homens continuam evitando o cuidado médico, mesmo em uma era de tanta evolução na área da saúde, é fundamental para mudar esse cenário. Neste artigo, vamos explorar as razões por trás dessa resistência, os impactos disso na saúde pública e privada, e o que pode ser feito para incentivar uma mudança de comportamento mais urgente do que nunca.
Cultura, machismo e medo: os principais fatores da resistência
A origem da resistência masculina em procurar o médico está fortemente ligada a fatores socioculturais. Por décadas, a masculinidade foi construída com base em conceitos de força, invulnerabilidade e autossuficiência. Dentro dessa lógica, admitir que algo não vai bem no corpo ou na mente é interpretado por muitos como um sinal de fraqueza. Essa construção cultural profundamente enraizada gera vergonha, medo de julgamentos e até mesmo receio de diagnósticos.
Além disso, o estigma em torno de exames considerados “desconfortáveis”, como o exame de toque retal, ainda é muito presente. Muitos homens evitam completamente o urologista por medo ou constrangimento, mesmo que esse exame simples seja um dos principais recursos para o diagnóstico precoce do câncer de próstata, o tipo mais comum entre os homens brasileiros.
Outro fator é o medo de perder o controle. Enquanto as mulheres são historicamente incentivadas a cuidar da saúde desde cedo, com check-ups ginecológicos, os homens não criam esse hábito. Quando finalmente decidem procurar um profissional, muitas vezes já apresentam sintomas graves e doenças em estágio avançado.
Também é importante considerar a falta de tempo — ou a alegação dela. A rotina acelerada, a pressão profissional e a ausência de prioridade para o autocuidado fazem com que consultas médicas sejam constantemente adiadas. O homem se coloca como provedor, trabalhador e resistente. Mas, no fundo, essa resistência tem um custo muito alto.
As consequências da negligência com a saúde masculina
A negligência com a saúde traz efeitos imediatos e duradouros. Um dos impactos mais visíveis é a alta taxa de mortalidade por doenças que poderiam ser prevenidas ou controladas com acompanhamento médico adequado. O câncer de próstata, por exemplo, quando identificado no início, tem chances de cura superiores a 90%. No entanto, muitos casos são descobertos tardiamente, quando os sintomas já se agravaram e as opções de tratamento são mais limitadas.
Doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, também lideram as estatísticas de mortalidade entre os homens. Grande parte desses eventos poderia ser evitada com controle de fatores de risco como hipertensão, colesterol alto, tabagismo e sedentarismo — todos passíveis de intervenção médica precoce.
Além das doenças físicas, a saúde mental masculina é um tema cada vez mais urgente. Homens têm mais dificuldade de expressar emoções, pedir ajuda e falar sobre sofrimento psicológico. Como resultado, os índices de suicídio entre homens são significativamente maiores do que entre mulheres, especialmente na faixa dos 25 aos 60 anos.
Nos planos de saúde, essa resistência em procurar o médico de forma preventiva também tem reflexo nos custos. Beneficiários que só buscam atendimento em situações graves exigem internações mais longas, exames complexos e tratamentos de alto custo. Isso eleva a sinistralidade e compromete a sustentabilidade dos planos, impactando os reajustes para todos os usuários.
O papel da informação e da prevenção na mudança de comportamento
Para reverter esse cenário, é necessário mais do que campanhas pontuais em datas como o Novembro Azul. A mudança precisa ser contínua, estruturada e baseada em informação de qualidade, acessível e sem julgamentos. A educação em saúde é a ferramenta mais poderosa para transformar a relação do homem com o cuidado.
Mostrar que a prevenção salva vidas, que exames de rotina são aliados e que buscar ajuda não é fraqueza, mas inteligência, é essencial. Iniciativas que usam linguagem acessível, que quebram tabus e trazem depoimentos reais de homens que cuidam da saúde têm mais chances de engajamento e impacto.
Empresas, escolas, mídias e operadoras de plano de saúde podem e devem atuar ativamente na promoção da saúde masculina. Ambientes de trabalho, por exemplo, são ótimos espaços para ações de conscientização, exames preventivos e rodas de conversa sobre bem-estar físico e emocional. A oferta de programas de check-up masculino personalizado, com agendamento facilitado e atendimento acolhedor, também é uma forma eficaz de atrair o público masculino.
É preciso lembrar que muitos homens não cuidam da saúde não por negligência proposital, mas por falta de hábito, medo ou desinformação. Quando encontram acolhimento, empatia e clareza, a mudança de atitude é possível.
Como os planos de saúde podem ajudar a mudar essa realidade
Os planos de saúde têm papel estratégico na promoção do cuidado masculino. Em 2025, com o avanço das tecnologias e das plataformas digitais, as operadoras podem personalizar a comunicação, segmentar o público e oferecer serviços voltados para esse perfil. Aplicativos com lembretes de consultas, conteúdos educativos voltados para o público masculino e acompanhamento de exames são formas simples de aproximar o homem do seu plano de saúde.
Além disso, oferecer programas de prevenção voltados exclusivamente à saúde do homem, como campanhas de rastreamento de câncer de próstata, avaliação cardiovascular e suporte psicológico, ajuda a reforçar a importância do autocuidado. A disponibilização de telemedicina com foco em especialidades masculinas também pode ser um facilitador importante, especialmente para aqueles que têm vergonha ou dificuldade de ir presencialmente ao médico.
A atuação proativa da operadora também pode incluir análises de dados dos beneficiários para identificar perfis de risco e acionar esses usuários com convites para check-ups e avaliações periódicas. Com isso, é possível antecipar problemas, reduzir internações e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida e o engajamento do beneficiário.
O cuidado com a saúde do homem também precisa considerar aspectos emocionais e comportamentais. Por isso, incluir apoio psicológico, terapia individual ou em grupo, e recursos digitais voltados à saúde mental pode ser um diferencial valioso — especialmente em tempos de pós-pandemia, onde as demandas emocionais estão cada vez mais evidentes.
Em 2025, ainda é comum ouvir homens dizendo que “não têm tempo” ou “não precisam ir ao médico porque estão bem”. Mas os números continuam provando o contrário. A resistência masculina ao cuidado com a saúde segue sendo um problema real, com consequências graves para os próprios homens, suas famílias e para todo o sistema de saúde.
É hora de tratar essa resistência como uma questão de saúde pública e agir de forma coordenada para transformá-la. Informação clara, acolhimento, linguagem acessível, incentivo à prevenção e programas específicos voltados ao homem são caminhos eficazes para mudar esse comportamento.
Buscar ajuda médica, fazer exames de rotina e cuidar do emocional não são sinais de fraqueza — são decisões de responsabilidade e coragem. Quanto mais cedo os homens entenderem isso, maiores serão suas chances de viver com mais qualidade, autonomia e longevidade. E os planos de saúde, ao reconhecerem essa realidade e promoverem iniciativas direcionadas, têm papel fundamental nessa mudança cultural tão necessária.