Nos últimos anos, os transtornos de ansiedade deixaram de ser uma condição silenciosa para se tornarem uma das principais causas de busca por atendimento médico e psicológico no Brasil e no mundo. Em 2025, esse cenário se consolidou: a ansiedade passou a liderar os atendimentos de saúde mental nos planos de saúde, superando inclusive doenças físicas como hipertensão ou diabetes. Essa mudança de perfil preocupa operadoras, médicos e pacientes — mas também acende o alerta para a necessidade de mudanças estruturais no cuidado com a saúde emocional.

Segundo dados recentes da OMS e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Brasil figura entre os países com maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Nos planos de saúde, o reflexo disso é o aumento exponencial das consultas com psicólogos e psiquiatras, da solicitação de exames relacionados a sintomas físicos causados pela ansiedade (como dores no peito, falta de ar, tonturas) e do uso contínuo de medicamentos ansiolíticos.

Entender por que os transtornos de ansiedade se tornaram a maior demanda é fundamental para pensar soluções que priorizem a saúde mental desde a prevenção até o acompanhamento de longo prazo. Neste artigo, vamos explorar as causas desse fenômeno, o impacto nos planos de saúde e o que pode ser feito para lidar com essa realidade de forma mais eficaz.

O que são transtornos de ansiedade e por que estão crescendo?

Transtornos de ansiedade vão muito além do nervosismo passageiro. Eles incluem condições como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobias, ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Essas condições afetam profundamente o bem-estar emocional e físico da pessoa, prejudicando relações, desempenho profissional e qualidade de vida.

Os motivos para o crescimento dos casos são diversos e multifatoriais. Um dos principais fatores é o aumento do estresse crônico. A sociedade atual vive em constante pressão — por produtividade, por aparência, por performance. O excesso de estímulos digitais, a instabilidade econômica, o isolamento social e a insegurança em relação ao futuro formam um cenário propício para o desenvolvimento da ansiedade.

Além disso, a pandemia da Covid-19 trouxe à tona emoções reprimidas, perdas traumáticas e novas inseguranças. Mesmo após o fim da emergência sanitária, os efeitos psicológicos persistem. Muitas pessoas que nunca haviam manifestado sintomas de ansiedade passaram a apresentá-los, e quem já vivia com a condição viu seus quadros se agravarem.

Outro ponto que merece destaque é a desinformação sobre saúde emocional. Por muito tempo, falar de ansiedade era um tabu. Hoje, com mais acesso à informação e campanhas de conscientização, há maior procura por diagnósticos e tratamentos. Isso é positivo, pois mostra que as pessoas estão cuidando mais da saúde mental — mas também expõe um sistema ainda despreparado para absorver essa demanda.

Como os transtornos de ansiedade impactam os planos de saúde

A ansiedade não se manifesta apenas na mente. Muitas vezes, ela se apresenta como sintomas físicos, o que leva o paciente a buscar atendimento em prontos-socorros ou clínicas de especialidades diversas. Dores no peito, falta de ar, tensão muscular, distúrbios do sono, palpitações e até sintomas gastrointestinais são queixas comuns que acabam sendo investigadas como possíveis problemas cardíacos ou neurológicos — e que, no fim, têm origem emocional.

Essa busca por respostas físicas gera aumento no número de exames laboratoriais, consultas com especialistas, internações e uso de medicamentos. Isso representa um alto custo para os planos de saúde, que precisam arcar com procedimentos muitas vezes desnecessários, além de conviver com a frustração dos pacientes que não encontram alívio para os sintomas.

Além disso, os pacientes com transtornos de ansiedade costumam fazer uso contínuo de psicoterapia, psiquiatria e medicamentos, o que requer atenção constante. Planos que não possuem uma rede bem estruturada de profissionais de saúde mental acabam sobrecarregando seus serviços ou enfrentando alta rotatividade de beneficiários insatisfeitos.

Outro impacto importante é o afastamento do trabalho. A ansiedade é uma das principais causas de licença médica no Brasil, tanto no setor público quanto no privado. Para os planos corporativos, isso significa não apenas custos médicos diretos, mas também perdas indiretas relacionadas à produtividade e à gestão de pessoas.

A falta de estrutura para atender à saúde mental

Apesar do crescimento dos casos, muitos planos de saúde ainda não têm uma rede de atenção à saúde mental preparada para absorver essa nova demanda. É comum que faltem profissionais especializados, que os prazos para atendimento sejam longos e que os beneficiários encontrem barreiras para conseguir autorizações para tratamentos contínuos.

Essa limitação na estrutura de atendimento faz com que muitos pacientes desistam do cuidado ou o façam de maneira fragmentada, recorrendo a soluções pontuais como pronto-atendimentos, o que não resolve o problema de forma efetiva.

Além disso, ainda há uma certa resistência por parte de operadoras em investir em prevenção em saúde mental. Muitas vezes, o cuidado é iniciado apenas em momentos de crise, quando a condição já está agravada. Isso acaba gerando um ciclo de dependência do sistema, em vez de promover autonomia e recuperação.

Em 2025, algumas operadoras já começaram a estruturar programas específicos de saúde emocional, com atendimento online, acompanhamento psicológico preventivo, integração com a medicina do trabalho e educação emocional. No entanto, esses programas ainda não estão amplamente disponíveis, o que gera desigualdade no acesso e na qualidade do cuidado.

O que pode ser feito para melhorar o cuidado com a ansiedade

A solução para o crescente número de casos de transtornos de ansiedade não está apenas em ampliar o número de profissionais, mas em mudar a lógica do cuidado. É necessário investir em uma abordagem preventiva, integrada e contínua da saúde mental.

Isso começa com a educação em saúde emocional, desde os ambientes escolares até os corporativos. Falar sobre emoções, reconhecer os sinais de sobrecarga e buscar ajuda precoce pode evitar o agravamento dos quadros.

No contexto dos planos de saúde, é fundamental ampliar o acesso à psicoterapia, inclusive com atendimentos online, que já demonstraram alta eficácia e melhor adesão. Além disso, oferecer programas de cuidado integrado, que envolvam também nutrição, atividade física, gestão do sono e suporte familiar, aumenta as chances de sucesso no tratamento.

Tecnologias como aplicativos de apoio emocional, plataformas de triagem automatizada e inteligência artificial para monitoramento de sintomas podem ajudar a identificar os pacientes em risco e conectar cada um ao melhor tipo de cuidado no momento certo.

Para os profissionais de saúde, é essencial oferecer capacitação contínua, pois os transtornos de ansiedade exigem sensibilidade, escuta ativa e abordagem baseada em evidências. E, para as operadoras, pensar em saúde mental como um investimento, não como um custo, é o primeiro passo para criar um sistema mais eficiente e humanizado.

Os transtornos de ansiedade são, hoje, a principal causa de atendimento em saúde mental nos planos de saúde. Isso reflete não apenas um aumento nos casos, mas também uma mudança positiva: mais pessoas estão buscando ajuda. No entanto, o sistema precisa evoluir para atender essa nova demanda com agilidade, empatia e eficácia.

A ansiedade é uma condição que afeta corpo e mente, e precisa ser tratada de forma ampla e integrada. Investir em saúde mental é investir em qualidade de vida, produtividade, sustentabilidade dos sistemas de saúde e bem-estar coletivo.

A era do cuidado emocional chegou. E os planos de saúde que entenderem isso sairão na frente na construção de um modelo mais saudável, preventivo e verdadeiramente humano.

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