O sedentarismo é, hoje, um dos maiores desafios de saúde pública do Brasil — e seus efeitos vão muito além da balança. A falta de atividade física regular não apenas compromete a qualidade de vida da população, como também tem gerado um impacto direto e crescente nos custos do sistema de saúde. Do aumento de internações ao crescimento no consumo de medicamentos, o estilo de vida sedentário está entre os principais responsáveis por elevar os gastos com saúde no país, tanto na rede pública quanto privada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já classificou o sedentarismo como o quarto maior fator de risco de mortes no mundo. No Brasil, cerca de 47% da população adulta é considerada insuficientemente ativa, segundo dados do IBGE. Isso significa milhões de pessoas mais propensas a desenvolver doenças como hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade, depressão e problemas cardiovasculares — todas com alto custo de tratamento e manutenção.
Neste artigo, vamos entender como a inatividade física afeta diretamente o sistema de saúde brasileiro, por que ela é um fator silencioso de aumento de despesas médicas e o que pode ser feito para reverter esse cenário, tanto em nível individual quanto institucional.
A ligação direta entre sedentarismo e doenças crônicas
A ausência de movimento regular afeta praticamente todos os sistemas do corpo humano. Quando não nos exercitamos, há uma queda na capacidade cardiovascular, na função pulmonar, na sensibilidade à insulina e no metabolismo de gorduras. Isso favorece o surgimento de doenças crônicas, que são justamente as que mais sobrecarregam o sistema de saúde.
Entre as condições mais associadas ao sedentarismo estão a hipertensão arterial, a diabetes tipo 2, as dislipidemias (colesterol alto), a obesidade, a esteatose hepática (gordura no fígado) e doenças do coração. Muitas dessas doenças exigem acompanhamento médico contínuo, exames frequentes, medicamentos de uso diário e, em casos mais graves, internações ou cirurgias de alto custo.
Além disso, o sedentarismo também contribui para o agravamento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, que têm aumentado significativamente no Brasil nos últimos anos. Esses quadros geram impacto indireto no sistema, pois reduzem a produtividade no trabalho, aumentam afastamentos e elevam a procura por tratamentos e medicamentos de uso prolongado.
Ou seja, uma população inativa se torna, com o tempo, uma população mais doente — e mais cara de cuidar.
O impacto financeiro no SUS e nos planos de saúde
No sistema público, os efeitos do sedentarismo são sentidos principalmente na alta demanda por atendimentos de doenças crônicas evitáveis. Dados do Ministério da Saúde indicam que essas condições representam cerca de 72% das causas de morte no país e consomem mais de 75% dos recursos destinados à atenção primária. Isso significa que boa parte do orçamento público em saúde está sendo direcionado para tratar problemas que poderiam ser prevenidos com hábitos simples, como caminhar regularmente, praticar exercícios leves ou reduzir o tempo sentado.
Nos planos de saúde privados, o impacto também é expressivo. A sinistralidade — índice que mede a relação entre o valor pago pelos beneficiários e o gasto da operadora com os atendimentos — aumenta significativamente quando o plano atende pessoas sedentárias com doenças crônicas. Isso leva ao reajuste das mensalidades, prejudicando não só os usuários mais doentes, mas todos os clientes daquela operadora. O custo de consultas, exames, internações e tratamentos continuados acaba sendo diluído entre todos os contratantes, criando um efeito em cadeia.
Algumas operadoras já perceberam esse problema e têm criado programas de incentivo à atividade física, como parcerias com academias, descontos para quem pratica esportes e campanhas educativas. A lógica é simples: quanto mais saudáveis os beneficiários, menor o custo para o plano e maior a sustentabilidade do serviço. Porém, essas iniciativas ainda são tímidas diante do tamanho do problema.
Sedentarismo como fator econômico invisível
O custo do sedentarismo para o Brasil vai além dos hospitais. Ele impacta diretamente o setor produtivo, por meio do aumento de licenças médicas, aposentadorias precoces, redução da produtividade e aumento da carga de impostos para sustentar o sistema público de saúde. O Brasil gasta, anualmente, bilhões de reais em consequência direta da inatividade física da população.
Segundo estudo publicado na revista The Lancet, o sedentarismo custa ao sistema de saúde global cerca de US$ 54 bilhões por ano em gastos diretos. No Brasil, estima-se que cerca de R$ 1 bilhão anuais sejam gastos com o tratamento de doenças relacionadas à falta de atividade física. Isso sem contar os impactos indiretos, como perda de produtividade no trabalho e aumento dos custos previdenciários.
Além disso, o sedentarismo contribui para o aumento da obesidade — outro fator com efeitos devastadores sobre os cofres públicos e privados. Pessoas obesas têm risco elevado de desenvolver múltiplas comorbidades, que exigem tratamentos multidisciplinares, uso de medicamentos contínuos e, muitas vezes, procedimentos cirúrgicos caros.
Portanto, combater o sedentarismo é, também, uma estratégia de economia nacional. Incentivar a prática de atividade física regular é uma forma de investir em saúde preventiva, reduzir gastos com tratamentos e tornar o sistema mais eficiente a longo prazo.
O que pode ser feito para mudar esse cenário
Reverter o impacto do sedentarismo na saúde e nos custos públicos e privados exige ações em várias frentes. Em nível individual, é preciso compreender que movimento é uma forma de autocuidado. Não é necessário se tornar atleta ou passar horas na academia. Atividades simples, como caminhadas de 30 minutos, subir escadas em vez de usar elevador ou fazer alongamentos durante o expediente já trazem benefícios reais.
O problema é que muitas pessoas ainda associam atividade física a algo opcional ou estético. Quando o discurso muda e a prática passa a ser vista como um ato de preservação da saúde — assim como se alimentar bem ou dormir com qualidade — a adesão melhora.
Empresas também têm papel fundamental nesse cenário. Programas de qualidade de vida no ambiente corporativo, incentivo ao uso de bicicletas, pausas ativas durante o expediente e parcerias com academias são medidas que beneficiam a saúde dos colaboradores e ajudam a reduzir custos com afastamentos e planos empresariais.
Os planos de saúde, por sua vez, podem investir em educação em saúde, criar benefícios para usuários ativos, oferecer check-ups personalizados e ampliar os serviços de prevenção, como acompanhamento nutricional e orientações de atividade física. O custo de implementar essas ações é muito menor do que o de manter uma população adoecida a longo prazo.
No âmbito público, é urgente que cidades invistam em infraestrutura para a mobilidade ativa, como ciclovias, parques, espaços de lazer, além de campanhas de conscientização e políticas públicas que integrem saúde, educação e esporte. Escolas, inclusive, têm papel decisivo na formação de hábitos saudáveis desde a infância.
O sedentarismo não é apenas um problema de saúde individual — é uma questão coletiva que afeta diretamente o custo da saúde no Brasil. Pessoas que não se movimentam tendem a adoecer mais, demandar mais atendimentos médicos, usar mais medicamentos e sobrecarregar os sistemas públicos e privados. O impacto econômico, embora nem sempre percebido no dia a dia, é gigantesco.
Por outro lado, o incentivo à atividade física é uma das formas mais simples e eficazes de reduzir gastos, melhorar indicadores de saúde e promover qualidade de vida para toda a população. Caminhar, se alongar, praticar esportes e adotar hábitos ativos não apenas previnem doenças, como aliviam a pressão sobre os cofres públicos e reduzem o custo dos planos de saúde.
O Brasil precisa se mover — literalmente — para cuidar melhor da sua saúde e do seu orçamento. E isso começa com escolhas simples, acessíveis e transformadoras.